quarta-feira, 21 de setembro de 2011

VIK, no Museu Colecção Berardo, de 21 de Setembro a 31 de Dezembro de 2011





O desperdício transformado em arte

Vik Muniz e o conceito de «Reciclar o Mundo»

Vik Muniz, nome artístico de Vicente José de Oliveira Muniz, desafia o espectador a entrar na sua aventura e a reinventar o olhar em «VIK», a mais extensa exposição alguma vez dedicada a este artista brasileiro, que acaba de inaugurar no Museu Colecção Berardo (CCB, Lisboa).

O artista pede que olhemos à nossa volta, que nos detenhamos em materiais aos quais não damos importância. Por exemplo, o lixo. Para Vik, pode ser algo além de lixo. Alfinetes, recortes de papel, pianos e bidões abandonados em sucatas, soldadinhos e outros brinquedos da nossa infância…olha para os desperdícios do quotidiano e ressuscita-os.

Começou por ser escultor mas descobriu que, ao fotografar as peças, estas ganhavam uma nova dimensão. E assim nasceu um novo princípio. Vik monta o «espectáculo», fotografa e desmantela-o. O material servirá para outras peças. Recicla e (re)cicla num ciclo perpétuo.

A regra é reforçada no documentário «Lixo Extraordinário», sobre o seu trabalho com catadores de lixo num aterro a céu aberto em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. A longa-metragem foi distinguida no Festival de Sundance e de Berlim.

Com esparguete, ketchup, caviar e diamantes recria grandes ícones da fotografia e da pintura. Na antologia patente no CCB, Vik Muniz expõe duas réplicas detalhadas da «Mona Lisa», de Leonardo da Vinci, uma feita com compota e outra com manteiga de amendoim. Também trabalha com açúcar, fios, arame e chocolate derretido, com o qual produziu uma recriação da «Última Ceia». Reinterpretou ainda várias pinturas de Monet, incluindo da catedral de Rouen, que produziu com pigmento aspergido sobre uma superfície plana.

Fez ainda imagens com açúcar mascavado para a série «Sugar Children» (Crianças do Açúcar), inspirada numa visita a uma plantação de açúcar em St. Kitts para fotografar filhos de operários que lá trabalham.

Os mais de 120 trabalhos expostos em Lisboa causam estranheza. Apesar da familiaridade das imagens, há qualquer coisa que surpreende. E essa coisa pode ser explicada pela escolha invulgar da matéria que selecciona para o seu trabalho. O desperdício dos outros.

«VIK» está patente no Museu Colecção Berardo até 31 de Dezembro de 2011 no piso 0.
A entrada é gratuita.

Texto Sandra Gonçalves
Fotografias Luis Cabrita